dezembro 18, 2008

As mãos acariciando o tronco dos dias...

O tempo, sempre a palavra tempo
que apetece saborear
e peregrinar,
as mãos acariciando o tronco dos dias
e os pés calcorreando a caruma dos pinhais.
E lá vou olhando, ao longe,
as nuvens que, do longo mar, se desprendem.
Sempre o tempo me dando ritmo, especialmente quando me apetece continuar aqui, mesmo que seja noutro lugar, para que as circunstâncias despertem outras faces do meu ser. Basta que a terra gire e que o sol venha alumiar certas ruas obscuras que não me deixavam peregrinar por dentro da minha própria história.

Passaram os tempos das amarguradas madrugadas
sem conseguir dormir,
desses assomos de tristeza
que provocam nos outros o sofrimento que não merecem.
Quando apetece fugir para não olhar o sol de frente,
visualizando a inteireza da nossa encruzilhada,
quando nem sequer conseguimos verbalizar a angústia,
percorrendo ruas de obscuros barulhos
assentes no lodo dos sítios
onde o sol tarda a chegar,
entre restos de barcos que apodrecem.



Apetece que estes dias não acabem
e que consiga capturar este prazer de viver feliz,
vencendo as penumbras.
Não, não me sinto um qualquer náufrago
em qualquer ilha deserta ou secreta
que a imaginação doentia pode inventar.
Prefiro a dureza desta costa ocidental e a violência luminosa
deste sol de Portugal que nunca admitiriam esses temporários embriagantes que nos entontecem. Porque há antiquíssimos sinais de um mar de há muito descoberto. Há o silêncio profundo desses segredos, ditos com palavras de todos os dias, maduramente sentidos. Há, sobretudo, a dor da procura de sentido, assente em sofrimento passado.