dezembro 18, 2008

Quando a água, amarga de sal, nos faz mais vida

Aqui e agora, esperando que a luz do sol
Possa vencer as densas nuvens da manhã,
esperando que o calor do dia que vai nascendo
dissipe a carapaça húmida e cinzenta
que, do mar, nos vem chegando.
E olhando assim por dentro de quem sou,
vou sentindo, em sonho, o pensamento,
sem me perder no desassossego
de quem não quer viver por si,
dentro de si.

É que, às vezes, sou menos do que sou,
quando, ao pegar na caneta, diante de um papel,
não consigo atingir o ritmo
daquela escrita quase automática
que vai fluindo por dentro de mim mesmo,
correndo livremente, como água na fonte da montanha.
Sinto que, de vez em quando, me vou imaginando em ritmo,
nestas reportagens íntimas,
onde procuro captar os meandros de bruma
de quem sou parcela.

Apesar de haver sempre as mesmas ideias,
as mesmas metáforas,
as mesmas frases,
as mesmas palavras.
Como se outrem se escrevesse através de mim,
nesta compulsão da palavra por cumprir,
neste desvelar das secretas vozes
que vão conflituando e gerando
o doloroso prazer dos muitos cadernos, agendas e blocos
que, não sendo propriamente diários,
estão intimamente ordenados.