dezembro 20, 2008

Não tenho terra, não tenho casa



Não tenho terra, não tenho casa
e apenas resta o mar que me perdeu.
Vagabundo por tua causa
em tal procura me não acho,
correndo todas as ruas do mundo.
Não tenho terra, não tenho casa
e, sem lugar, é, do próprio tempo,
que me desprendo.
Ficou por achar quem sou
e, em nome do sonho que me norteia,
foi de mim que fugi por tua causa.

Nesta dor da solidão, assim guardado em mim,
temo cruzar-me com quem sofre
o silêncio de não dizer.
E guardo quem sou, assim calado,
sem força até para dizer da revolta que me invade,
do sentido que procuro,
do tempo que não acho.
Assim fechado, em casa,
à espera de uma qualquer música
que me liberte
destas quatro paredes
de quem assim, de si, se perde,
de quem passeia sua procura
neste silêncio imenso que me invade.

Que apetecia viver e reviver,
procurar, longe daqui, em qualquer lugar,
um lugar onde que me faça regressar.
Um verso onde poisar meu verso,
a pátria prometida
que resguardo em sonho,
nas mãos fechadas da revolta,
neste sonho de procurar quem sou
pelas ruas abertas à brisa suave,
e estes fins de tarde com poentes de fogo
que vão incendiando o céu azul
que me deu quem sou.

Que aqui e agora, me vou sofrendo,
no verso que procuro neste correr livre da pena,
em minha própria procura.


Não tenho terra, não tenho casa


Hoje sou amargura, voz embargada
de quem vai sofrendo o vazio da procura.
Porque sou o mesmo, ainda que o não seja.
Porque apetecia que não apetecesse
tua procura.


Apetecia poder ser, poder viver,
poder sofrer.
Apetecia a solidão agreste
de quem ousa erguer
as mãos para uma qualquer luz
que não consigo olhar de frente.

Ter um signo e não poder cumpri-lo,
ter um sonho e não poder vivê-lo.
Sim, eu sei que sou a margem
que, em vão, se usa,
para que tudo seja gente que esqueça.
Apenas servi de trampolim, para não ser.