dezembro 18, 2008

No dia em que um vaivém chegou são e salvo

Apetece reparar que o belo sonho do catecismo dos industriais
e as maravilhas da ciência e da tecnologia
produzidas pelo positivismo e pelo pragmatismo
tanto nos deram a NASA como Hiroshima,
enquanto por cá apenas produzem caricaturas engenheirais,
de mangas arregaçadas,
prometendo-nos betão e túneis,
assim demonstrando a distância que nos separa das alturas.
Que bom seria não haver guerrilha
nem terrorismo
e que a nossa governação pudesse ser gerida
por um qualquer mecanismo,
nomeadamente por um computador.
Que todo o mundo se reduzisse ao papel quadriculado
de um projecto de barragem,
sem as eternas maluquices a que não conseguimos dar resposta,
como a adoração dos deuses, ou de um só Deus,
as coisas simples do amor
ou as paixões cívicas que metem pátria,
ideologia, camaradagem ou amizade.
Que bom seria sermos todos categorias, abstractas e quantificáveis,
susceptíveis de planeamento,
sem as loucuras dos que ainda citam Platão,
Confúcio,
Cristo,
Rousseau
e Marx...
Infelizmente, continuo a cravar as minhas farpas
no dorso das vacas sagradas,
no meio das muitas chocas
que se fingem gado bravo.

Hoje não apetece falar nas guerrazinhas de homenzinhos
e nas golpadas de salão em que se enreda a política doméstica.
Ainda bem que há um vaivém que regressa
do infinito espaço de que somos parcela.

Ainda bem que ainda podemos ir além,
em descoberta,
esquecendo que por cá ainda restam
a pobreza,
a injustiça,
a doença
e a fome.

Ainda bem que a humanidade pode ter a ilusão
De, a si mesma, se superar,
embora, todos os dias, não consiga
ir além dentro de si.

Por momentos, todos podemos ser
tripulantes de um qualquer vaivém,
reentrando na atmosfera,
depois de uma viagem além de nós,
assim vencendo a má lembrança
de outra nave em que morremos,
no regresso,
por causa de um qualquer grão de espuma
na engrenagem.