dezembro 18, 2008

Importa viajar sem a ligeireza do turista

Importa viajar sem a ligeireza do turista.
Daquele que tudo pensa captar
porque apenas quer viajar para fazer suas as prévias sensações
já registadas por escrevinhadores de viagens.
E apetece ser parcela de outra viagem
que seja parte de uma viagem,
onde apeteça cumprir livremente o meu destino.
Para que o tempo possa circular em mim
e fazer-me nómada,
continuando na descoberta
do sentido íntimo dos lugares.
O que talvez seja não ter mesmo nenhum lugar.

Porque quando a viagem nos faz peregrinos,
vagabundos
que são romeiros de um sentido para o mundo,
cada um dos nossos passos é como se fosse uma conversão.
E todos os que têm a força para cumprir sua missão
não podem mesmo ter um qualquer lugar que os limite.
São de todo o mundo.
E apenas o tempo os vai cansando,
olhando o fim como o momento em que o corpo
já não pode ter mudança, sem merecer estar vivo.

E assim me sonho, quando vou escrevendo,
de um jacto, sem saber o que comanda a minha mão,
neste pontuar linhas sobre o papel,
procurando desafiar o sem espaço do mistério.
O tempo da descoberta nunca nos custa.
Mesmo num sítio desconhecido, fazemos sempre bolhas nos pés, no primeiro dia da estadia, nessa corrida para vencer o desconhecido, percorrendo, em círculos concêntricos, o espaço que tem por núcleo o ponto de encontro onde brevemente estacionamos e pensamos nosso.

Os minutos demoram e doem
quando se espera uma partida,
marcada pelo prazer da viagem.
Para que a espera passe depressa
e se volva em esperança,
mergulhando na noite à procura de Sul.
Quando apetece a viagem de, contigo, viajar,
de, contigo, despojar meu ser
dos restos de quem não sou,
de, contigo, viver e reviver.

E noite dentro, a viagem se desdobra
por mim dentro.
Leio.
Tento esquecer.
E ingresso, de vez em quando,
no tempo que vou esquecendo.
Regresso.
E, nesse poiso de sustento, imerso,
na imanência que é transcendência,
no devagar regresso a quem na verdade sou,
é no profundo silêncio que me durmo.
E sonho.