dezembro 18, 2008

Esta dor, esta revolta

Sei que os meus escritos sofrem daquela saudosa melancolia,
típica dos que, não tendo perdido o sonho,
sentem o corpo sitiado pelas realidades de uma pátria que já não há.

Muitas vezes não me apetece escrever
sobre coisas políticas e sociais,
indo à raiz das palavras que me desnudam.
Porque, às vezes, a escrita é intimista demais,
para que outros a possam peregrinar.

Continuo a seguir esta viagem de viver
por dentro do temporal.
Mas comigo, segue uma longa tristeza.
Pessoal, familiar, patriótica.
Num tempo de crise em que me confundo
com os próprios destinos do meu povo.
Sobretudo, neste meu tempo
de questionar a aventura de escrever-me
e de escrever para os outros.
Esta interrogação sobre se vale a pena
meu continuar a insistir sobre o que sonho,
nesta permanente viagem à volta de mim mesmo,
esta dor, esta revolta.

Quão longe me sinto destes meus vizinhos conformistas,
sempre à procura da exacta consequência
que deriva do paralelograma de forças
onde se inserem
e de que são consequência.

Não pode ser esta a postura dos que ousam a insolência
e continuam à procura da autenticidade.
Por isso, aqui e agora, eis-me
na hora de continuar a viajar dentro de mim,
de procurar, por entre a bruma,
sinais que me possam libertar.