dezembro 20, 2008

Da procura de um amor feliz


Sempre a espera que antecede
o momento da procura,
um rio, o vento,
o barco que passa,
o sítio mais estreito
que nos dá passagem.
Uma barca que nos leve além,
para ficarmos bem mais perto
desse pedaço de sonho
que se guarda em mim.
No apetecer de um tempo descoberto,
na sagrada procura de um sinal
que me dê sonho,
na espera sentida de um tempo que me dê alento.
Sou quem sonho, as mãos sustenho
sem palavras que descrevam o momento.
O breve sinal que me deu alma.
E as mãos contenho, devagar.
Que aqui quem sonho me deteve
à beira de um tempo que não foi.
Ouve, deixa que te diga
o que, no fundo me apetecia,

nesta ternura de ainda termos cumplicidade.
Deixa que te diga que ainda vale a pena
o segredo que nos arrasta livremente
pelos breves meandros da felicidade.
E apetecia escrever-te sem peias,
deixar aqui o nome que soletro, mas não registo,
com medo que vasculhem estes papéis.
Quanto apetecia dizer-te profundamente,
que é por tua causa que aqui me vou escrevendo,
para que um dia, quando voltarmos a quem na verdade somos,
nus e secretos,
num qualquer lugar que nos dê futuro,
teus olhos possam estas linhas percorrer.
Quanto apetecia que estas palavras pudessem
despertar quem sou,
que, mesmo depois de morto,
nestas palavras eu possa, através de alguém
que isto mesmo sinta, me eternizar.
Que, com alguém, sentindo o meu sentir de agora,
possa voltar, um dia,
a eternidade que, humanamente senti,
na brevidade desta vida.
Que tua cumplicidade sentida
possa despertar-me das brumas da memória,
em nome do amor.
Aqui me espero à tua espera.
Nesta casa onde apetecia que viesses
para desbravarmos a noite.
Para, diante da lua,
poder seguir
a cartografia do teu corpo,
decifrando todos os sinais que me dão rota.
É a noite que vai seguindo seus passos,
nesses longos caminhos que apetece peregrinar,
nestas viagens de me olhar por dentro,
de me olhar para dentro.
É o tempo.
O muito tempo que me apetece,
para que o tempo não finde
e seus sinais me não dêem a longa esperança da viagem.
E apetecia seguir contigo,
ser contigo,
para sempre viver contigo.
Como dói saber que o tempo me consome
e nos consome