dezembro 20, 2008

Foram lábios feitos navios


Sei que não dissemos a palavra amor,
mas também sei
que foi amar o que nos aconteceu.
Como aquele abanar do vento,
feito estampido,
que venceu os tímpanos do tempo.
Sei que só nós sabemos como foi
e que o segredo de nada dizermos,
tanta coisa nos disse,
nesses silêncios da noite.
E sei também que apetecia poder voltar
a ser essa breve viagem de mãos dadas,
de corpos dados,
quando dois seres que nunca se repetem
viveram um acontecer
que nunca mais será como foi
dessa primeira vez.


Houve um menino homem, em sua procura de viver,
farto de sustentar os pesos da angústia
que, em teu corpo de mulher menina,
procurou que acontecessem frutos, flores,
sombras nocturnas de primavera,
uma cama feita caruma seca de pinhal
e o tecto pleno de estrelas
num quarto aberto ao sinal do horizonte.