dezembro 18, 2008

Que estes dias não acabem

Apetece que estes dias não acabem
para que possa continuar a capturar
este prazer de viver feliz,
vencendo as dolorosas penumbras
de um passado onde me perdi.
Não, não me sinto um qualquer náufrago
numa ilha secreta que a imaginação doentia possa inventar.
Prefiro a dureza desta costa ocidental
e a violência luminosa deste sol de Portugal.
Porque há antiquíssimos sinais
de um mar de há muito descoberto.
Há, sobretudo, a dor de procurar
o meu sentido,
assente em sofrimento passado
e o silêncio profundo desses segredos,
ditos com palavras de todos os dias,
maduramente revividos.
Ainda há tempo para dar longos passeios ao domingo,
noites que podem ser manhã
e jardins suspensos na luz do Sul.
Aqui posso ser quem estou,
assente num corpo feito sinal da procura,
onde versos e versos me levam ao segredo,
porque há pedaços de desejo e restos de música.