dezembro 18, 2008

Sempre esta procura de não achar o sonho de quem sou

Sempre esta procura de não achar o sonho de quem sou.
A tal semente que a brisa do rio me deixa
em seu vagar de esperança.
Que há dias de rio e mar
assim à minha beira.
Dias de chegar e regressar.
De tempos que me dão tempo,
estes marítimos compassos de meu caminho de cais.
Que serei sempre quem procuro e afinal não acho.
Esta solidão solidária que o infinito me deu,
esse intenso sinal do tempo
que, por mim dentro, me permite o mais além.

Agora, o prazer da sombra de um jardim
em plena cidade,
a música dos pássaros vencendo o ruído
dos carros que passam,
as conversas que se ouvem, difusas, na mesa ao lado,
os incómodos sons dos telemóveis
que interrompem a serenidade do jardim,
e a minha solidão que pensa.
Sobretudo, o prazer de recordar momentos
em que fui feliz.

E o pássaro que volta
e cujo chilreio recorto,
deste mosaico do momento.
O verde sujo visto da sombra,
o breve vento que nos refresca em dia de Verão.
Onde não interessam as conclusões que declaramos,
mas as angústias da procura que poderemos sugerir.

Comi breve, nesse requinte
de saborear sem olhar as horas,
sem ter de correr para cumprir,
pedindo um café no devagar e escrevinhando à toa
sem sequer ter que escrever.
Fecho-me à conversa impertinente
destes vizinhos de mesa, atrás de mim,
prefiro seguir a viagem
que uma ousada pomba vai fazendo
por entre as mesas da esplanada.